Os juros altos e a redução de gastos do governo farão a indústria siderúrgica brasileira retornar este ano aos patamares de produção de 2003. Até setembro, os números do setor apontam decréscimo em produção, vendas e volume de exportações. A expectativa, porém, é de melhor desempenho no quarto trimestre e principlamente em 2006, por conta das eleições, segundo a associação que representa o setor.

Nos nove primeiros meses de 2005 a produção de aço no país caiu 4,1 por cento, para 23,6 milhões de toneladas, enquanto as vendas recuaram 8,5 por cento, para 12,3 milhões de toneladas. As exportações tiveram queda de 1,6 por cento, mas subiram 29 por cento em valores, para 5 bilhões de dólares.

Os dados do terceiro trimestre, divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), foram até agora os piores do ano, com as siderúrgicas aproveitando o período de demanda mais fraca para fazer manutenções, informou o presidente do IBS, Luiz André Rico Vicente.

A produção de julho a setembro caiu 9 por cento ante o mesmo período do ano passado, de 8,5 milhões para 7,7 milhões de toneladas. As vendas internas recuaram 19,3 por cento na mesma comparação, de 4,8 milhões para 3,9 milhões de toneladas.

"O desenvolvimento interno continua lento, obras foram adiadas e isso se refletiu nas vendas internas como um todo", explicou Vicente, que também é vice-presidente da Gerdau Açominas. "...o real cada vez mais forte também tira a competitividade dos setores de ponta e isso nos atinge", completou.

Ele informou que o Brasil deve cair este ano de oitavo para nono produtor mundial de aço, empurrado no ranking do International Iron and Steel Institute (IISI) pela Índia, que ficará em seu lugar.

O IISI divulgou nesta quarta-feira dados mundiais do setor siderúrgico, com a Ásia puxando alta de produção, com avanço de 16,5 por cento contra igual período do ano anterior. A média do mercado mundial registrou crescimento de 6,3 por cento na produção de aço bruto.

ELEIÇÕES 2006

A expectativa do presidente do IBS é de que o contingenciamento do Orçamento este ano, para fortalecer o superávit primário, dê lugar a uma série de obras no último ano do governo.

"O último ano do governo é o ano que vem, e existe um prazo para as inaugurações antes das eleições. Como em todo governo, a expectativa é que esse governo não seja diferente", afirmou.

Ele lembrou que para inaugurar obras até outubro de 2006 o governo terá que começar a tomar decisões agora.

"A expectativa para 2006 é favorável, porque tem que haver um esforço definitivo do governo. Imaginamos que obras paradas serão retomadas, temos expectativa que o governo vai reagir por causa das eleições."

Ele comentou que o governo adiou obras importantes, como hidrelétricas e o Gasene (gasoduto que ligará o Sudeste ao Nordeste), e que a iniciativa privada está, por causa dos juros altos, levando à frente apenas projetos que já estavam programados.

Os novos projetos que vêm sendo anunciados, de siderúrgicas estrangeiras que pretendem se instalar no Brasil pelas mãos da sócia Companhia Vale do Rio Doce, são bem recebidos pelo IBS, porque visam a exportação. Ao mesmo tempo, enfrentam críticas devido ao possível subsídio que pode ser dado pelo governo por meio de medida provisória, a chamada "MP do Bem".

"O governo tem que dar isonomia dos benefícios fiscais para os outros projetos que estão sendo feitos ou serão feitos no país", reivindica Vicente, que pelo IBS conversa com parlamentares e ministros sobre o assunto.

A "MP do Bem" prevê incentivos fiscais para indústrias que visem a exportação de 80 por cento da sua produção e foi derrubada na semana passada no Congresso Nacional. O governo estuda fazer uma nova edição da medida ainda este ano.