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Quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024
Notícia : 20/03 - Especialistas pedem cautela na redução de tarifas
A proposta do Ministério da Fazenda de baixar as tarifas de importação para estimular a concorrência interna e frear a valorização do real sobre o dólar, pode ser um tiro no pé, segundo economistas e especialistas em comércio exterior. Para eles, a medida poderia ser acertada se as indústrias estivessem em igual nível de condições que suas concorrentes internacionais e se o Brasil não estivesse em plena negociação comercial utilizando as suas tarifas como moeda de troca.

Entidades da indústria e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior também lançam mão de tais alegações, afirmando que, caso a idéia seja colocada em prática, pode resultar em nova recessão na economia. De acordo com os especialistas, as áreas da indústria mais afetadas serão aquelas que fazem grande uso da mão-de-obra, principalmente a não especializada, que tem grande incidência no preço final dos produtos.

Eles afirmam que a concorrência com países como a China, por exemplo, é imensamente desleal. Para a professora dos cursos de MBA em Gestão de Negócios Internacionais e em Logística Empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mônica Romero Marinho, nesse sentido não basta apenas dar condições para a indústria nacional competir, mas também adequar as políticas tributária e trabalhista do País. "Nós temos uma mão-de-obra sem capacitação muito cara, cujo salário é de mais de US$ 100 e que custa o dobro disso para o empregador. Na China, trabalhadores sem especialização ganham US$ 0,50 a hora trabalhada e produzem muito mais.

E o pior é que no Brasil os impostos pagos não se transformam em benefício, nem para o trabalhador nem para o empresário", diz Mônica Marinho, afirmando que a taxa tributária brasileira ainda é o maior problema quando se fala em crescimento econômico.


Divisão

As entidades da indústria afirmam que as propostas da Fazenda não têm fundamento e por isso causaram até uma divisão no governo federal, com o Ministério do Desenvolvimento colocando-se contra. "A média das nossas tarifas hoje é de 10,8%. A Fazenda quer baixar a taxa para 7,5%, o que não terá impacto suficiente para equilibrar o câmbio e muito menos reduzir a inflação.

Hoje, temos uma tarifa menor que a da Índia, que é de 28,5%, e um pouco maior que a da China, que é de 9,5%", disse o diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Segundo o diretor do Iedi, no início da década de 90 tal medida foi tomada, mas na época a taxa de importação girava em torno dos 43% e fez diferença na economia.

"E apesar de não chegar a ter impacto, pode afetar seriamente a estrutura de alguns setores, como o têxtil, o de vestuário e o de calçados", disse. Gomes de Almeida diz ainda que no Brasil não há oligopólios - a não ser dos bancos -, mas que para combatê-los o melhor meio seria com programas de incentivo e investimentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para o pesquisador do Boletim de Conjuntura do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Gonzaga, em princípio, a redução de tarifas é um bom critério porque estimula a produção interna e a competição de preços, mas deve ser feita de forma gradual e negociada com os próprios setores envolvidos.

"Da forma que está se querendo fazer é como se jogassem crianças na água para que elas aprendessem a nadar", disse. Além do cronograma de redução, Gonzaga acredita que o governo deveria também financiar a reciclagem das empresas, estabelecer setores prioritários para a medida e dar um tratamento diferenciado ao mercado interno.
Fonte: Jornal do Commercio

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